sábado, 16 de maio de 2009

Carta a ninguém.

Você viu o céu esta noite? Ele chorou por nós... A noite toda. Era tanta tristeza guardada que relâmpagos invadiam a cidade. Em seu mais infinito esplendor, derrubou suas lágrimas sobre tudo, derramando sua dor. Encharcando quem se atrevesse a passar. Ao olhar para cima pude entender sua causa, eu sabia que não seria fácil, e, ainda assim, meu coração doeu. Sem tanto motivo, me ajoelhei diante de sua tristeza. Cada gota escorrendo em mim.

(Mariana Montilha)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A melancolia de sentir.

Ela esticou seus braços à sua frente, na altura de seus ombros. Uma brisa gelada passou, e ela pôde sentir os pêlos de seus braços se eriçarem. Com os pés descalços afundados na grama úmida, seu vestido rodado que batia um pouco acima do joelho, ela aproveitava cada sensação de topor que a invadia. Em seu próprio mundo de escuridão, ela tocou uma flor com as pontas dos dedos, sentindo a espessura das pétalas. Em seu vazio interior, uma lágrima solitária escorreu por sua pele quente, indo diretamente de encontro ao chão. Em um movimento rápido, quase inescrupuloso, seus braços se soltaram, frouxos, ao lado de seu corpo. Ela sentou no chão de grama molhada, com os braços agora abraçados às pernas desnudas, pelo vestido que caía de encontro à suas coxas. E ali ficou. A olhar o vazio de seu mundo inventado. A tristeza palpável. Sem saber por quanto tempo, sem saber após quantas lágrimas. Enquanto o vento batia espalhando suas lembranças para todos os lados e alguns fios de cabelo iam batendo e dançando em seu rosto. O sol subia, aparecendo por entre as nuvens. O calor fraco da manhã fazia-a sentir-se viva novamente - Como o acordar de um sonho ruim... Como uma noite mal dormida.
- Nós sobrevivemos e fingimos que está tudo bem... Procuramos sempre alcançar algo mais... Um algo que não existe e nunca existirá... Sinto que nós nunca seremos felizes, nunca nos daremos por satisfeitos... é tudo em vão, tudo infundado.

(Mariana Montilha)