domingo, 21 de junho de 2009

Caminho.


As luzes da cidade formavam pequenas chamas de velas ao longe. O anoitecer estrelado olhava para ela. Ali, em cima da ponte, seus olhos corriam de um lado para o outro, acompanhando as luzes dos semáforos acesos. Não havia ninguém naquele momento, nenhuma companhia, apenas aquele sentimento falho de derrota. Em seu coração repleto de solidão, onde a loucura alcançava lugar e o medo lhe corroia noite e dia, ela tinha tomado sua decisão.
Com os braços abertos, esticados longe do corpo, a cabeça erguida aos céus e os olhos agora fechados, ela respirou a noite fria; fazendo com que a escuridão de dentro e fora fossem misturadas.
Em um instante de contemplação pôde perceber o quanto doía continuar ali – entre tudo e todos, sem para onde correr, sem ter como agir, em um caminho incerto entre o ser e o não-ser, em um torturante destino de incertezas.
Enquanto sua mente sobrevoava todos os caminhos desejáveis, sua alma implorava o único caminho.
Em seu mais profundo desespero, enquanto sua última lágrima rolava solitária em seu rosto, tomou sua decisão final; tombou seu corpo para frente e pôde sentir o sabor da queda.
Ela era doce, cheirava à ternura.

(Mariana Montilha)