quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Instantes.

Meu coração é a raiz da morte,
A gora na chuva, o trovão!
Uma pessoa comete suicídio, outras duas,
Fazem amor. Qual a explicação?

Se há a vida, se há a morte,
Elas insistem em serem contadas.
Que vidas se perderam no caminho?
Quais seus motivos?

Sonhos criados em preto e branco,
O mar em fúria,
A distância entre sentimento e razão!

O buraco negro no centro do meu universo,
Ele cresce, tão imponente, assustador!
O que há de errado com minha alma?
Se eu ainda não a estudei, não a conheço!

tantos “eus”,
E eles são tão variados quanto um minuto,
Você me faz rir pra logo em seguida chorar,
Você é o único que me faz sentir assim,
Não há como disfarçar.

(Mariana Montilha)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Conto.

Esse é o meu primeiro conto, não tem nome, mas como diria Shakespeare "é um conto, contado por um idiota, cheio de barulho e fúria, significando nada":

O vento frio batia em seu rosto. Finas gotas de chuva caiam leves sobre si, fazendo os pêlos de seus braços desnudos se arrepiarem.

O vestido preto acentuava suas ondas curvilíneas. Os olhos castanhos contornados por uma forte maquiagem escura. Cabelos pretos caíam em camadas sobre os ombros, fazendo cachos descuidados nas pontas. Lábios cobertos por uma espessa camada de batom vinho tão escuro quanto todo resto, tão escuro quanto sua alma. O que fazia um grande contraste com sua pele; pálida, suave, branca como a neve.

Marybeth. Esse era seu nome.


Não havia lágrimas, não mais, elas haviam se esgotado, não restara nada. Nada de lágrimas, nada de futuro, nada de vida. Tudo havia se acabado.

Seu olhar estava vidrado no caixão, mas notava-se que não o enxergava realmente, sua visão estava muito além, passeava por lembranças enterradas, distantes, quase esquecidas. Lembranças que voltavam à tona para sua tortura, seu martírio. Sem aquilo seu mundo seria um erro.

Vozes, gestos, palavras ditas quase em sussurros, medos, momentos, tudo.


O mundo girava, pessoas falavam, mas ela não ouvia. Ela não estava realmente ali, sua alma vagava em algum lugar distante do passado, onde houvera histórias para contar, onde o mundo havia sido mais bonito, onde a vida havia sido vivida.
Ela via o caixão negro descer reluzente. Passando pela terra molhada e vermelha. Vermelha como seus sonhos inacabados, vermelha como a tristeza de não o ter mais consigo, vermelha como o mundo que lhe era negado. Mas não chorava. Nunca chorava. Podia-se ver o medo em seus olhos, o cansaço, a tristeza profunda, a melancolia que levava ao desespero, a amargura de uma eternidade vivida sem ele, a confusão de sentimentos doloridos, mas lágrimas não eram vistas.

Jamais.



Não encontrava coragem para olhar em volta. Não queria ver todos chorando em suas falsas tristezas, não podia. Aquela falsa melancolia, aquelas falsas lágrimas.

O mundo se abria sobre seus pés, ele desabava. Um lugar sem fim, sem destino, sem medos ou delírios.

Mas o caixão continuava ali, descendo para sempre, num destino certo. Um dia tudo aquilo sumiria e nada mais importaria. Mas e ela? Tudo que passava por sua cabeça é que nunca mais seria capaz de sentir alegria, jamais conseguiria sorrir novamente. Depois daquilo o mundo acabaria, não haveria mais importância.

O medo a corroia como um veneno.
Lento. Forte. Medonho. Catastrófico.

E o frio, aquele frio de morte, aquele frio assustador, aquele frio enorme, que não se acabava, não diminuía. Não o frio do tempo, mas o seu frio interior, aquele que a matava aos poucos. Aquele que fez seu coração congelar, junto com pequenos destroços de bons sentimentos.

Era tudo o que sentia naquele momento: o frio.

Estava cansada, cansada de sobreviver, cansada de que a deixassem ali, de lado.
Mas e a vida? Como a vida continuaria assim? Como o mundo resistiria? Não conseguia imaginar como poderia haver pessoas em lugares do mundo que ainda pudessem demonstrar felicidade naquele momento, elas não deveriam estar felizes. Deveriam estar ali, compartilhando aquele vazio profundo que era exalado por sua respiração. Aquele vazio na sua alma, aquele buraco negro que havia sido formado dentro dela. Aquela sensação de que faltava algo.

O mundo parou de girar. As pessoas já não sorriam mais, não se comunicam, não são felizes. Era isso que sentia. Todos buscavam a felicidade como loucos, passando por cima uns dos outros, mas a realidade é que ela, a felicidade, era inalcançável. Ninguém podia tê-la, ninguém podia senti-la. O que existia, na realidade, era aquela falsa serenidade, aquela falsa sensação de que estava tudo bem, de que iria sobreviver.

Mas agora nem isso!


Aquele era seu mundo, era onde passaria o resto de sua vida sozinha. Sem aqueles lábios quentes e chamativos, aqueles toques imponentes, distintos. Sem o desejo explícito naqueles olhos, a raiva contida, os momentos de loucuras que jamais voltariam.

As risadas, as lágrimas, os sorrisos, os brilhos nos olhos, o respeito, o carinho, o amor.

E os momentos de felicidades deixados para trás, no passado de uma história real, de risadas e paixão. Um passado que, distante, deixava saudade, lembrava tristeza, fazia esperança. Ele não estava mais ali!


Ela sentiu um toque em sua mão, o toque macio de uma mão pequenina, uma mão que pedia proteção e carinho, aquela mão que ia salvá-la do fim dos tempos.
Finalmente desviou o olhar do caixão e olhou para baixo, para o lugar de onde vinha a mãozinha. Era um menininho de cinco anos, era o seu menininho. Ele a encarava com aqueles grandes olhos verdes, olhos que costumavam ser de descoberta e triunfo, mas que agora não passavam de tristeza. Ela deu um sorrisinho para ele, como que para confortá-lo, mas ele não se mexeu, pareceu nem sequer perceber, continuou encarando-a com os olhos marejados.
Não agüentando mais, abaixou, pegou o menino nos braços e se encaminhou até um banco próximo. Sentou-se com ele em seu colo, virado de frente para ela. Foi então que ele disse com aquele ar inocente:

- Eu nunca mais vou ver o papai?


Ela olhou no fundo de seus olhos. Não era necessário responder com palavras, os dois se correspondiam pela alma. E finalmente ela pôde se sentir livre para chorar, sentiu as lágrimas vindo, sua garganta se apertando, seu coração sendo estilhaçado.

domingo, 26 de outubro de 2008

Desajuste.

Não importa quem eu seja,
O modo de agir,
Ou os instintos desconhecidos.
Quem eu sou, nem eu mesma sei-o bem.

Há uma força estranha,
Um eu que me empurra,
E tantos caminhos. Qual será o meu?
Em qual me perderei?

Se alguém me encontrar,
Por onde estarei?
Vagando em que mundo, em que vivência?

Se o caminho a seguir é longo de mais,
Se histórias se cruzam,
E vidas se confundem...

O estado maligno de confusão,
O fato de não se saber, não se entender.
O motivo certo,
O momento errado.


(Mariana Montilha)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Silêncio Disfarçado.

A vida passa em um segundo,
A eternidade passada em um momento,
Quantos nós somos? Quem seremos nós?
Onde estão os segredos?

E não há respeito, não há paixão!
Que sentimentos?
Que confusão!

Estranhos que acenam,
Passos que se vão,
Sombras que se movimentam,
Vozes que me guiam, estranho sem razão!

A instabilidade, a insegurança.
Seremos ainda passados?
Que demora de nossos futuros!
E quanta desgraça, quanta desordem!

O mundo que não é mundo, que não gira!
A filosofia de uma vida,
O caos transformado,
E a vida, uma euforia!


(Mariana Montilha)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A tristeza repartida.

Meu coração foi partido em pedaços,
E você me pede desculpas,
Mas qual deveria ser minha reação,
Se o meu mundo parou de girar?

Quando o mundo pára,
Qual deveria ser o movimento correto?
Quem vai nos perdoar por momentos perdidos?
Quando nos sentiremos livres novamente?

Um dia nós iremos todos para baixo,
E você me pedirá perdão,
Mas então será tarde demais!
Nossos sonhos nos encontrarão,
E continuarão nos enganando.

Sua vida se perderá,
Seu conjunto vai se desfazer.
Tão forte quanto antes?


(Mariana Montilha)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Nós co-existimos.

Existe um modo de nos comunicarmos pelo brilho do olhar,
Aquele modo terno de se preocupar, de sentir.
De entrar em contato, de estar presente.

Você me encara e chega mais perto,
Seus olhos refletem meus sentimentos,
Nossas mãos se encontram, se entrelaçam,
Elas viram uma só.

Agora suas mãos estão em minha cintura,
Então você encosta sua testa na minha e fecha os olhos
Balbuciando versos incompreensíveis a todos,
Menos a mim!

Há certa diferença entre nós,
Ela é submersa, quase transparente.
Ideologias, propósitos, lutas!
Nós somos tão diferentes e tão iguais.

Você volta suas mãos de encontro às minhas,
E me puxa, diz que quer dançar.
Coloca uma música,
A nossa música.

Eu me derreto por você, eu não tenho forças para lutar!

Você me dá um beijo no pescoço, eu fecho os olhos,
É mais fácil se permitir sonhar de olhos fechados.
Você sobe, beija minha orelha, sinto-me arrepiar.
A bochecha, o queixo, o nariz, a testa,
A boca!

(Mariana Montilha)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Às escondidas

Eu entrei em um caminho sem volta,
Abdiquei aos meus desejos,
Meus sonhos tornaram-se distantes.

Nós nos tornamos reais,
E eu sou louca por você!

Me contorço de saudade,
Me exprimo de tristeza
E continuo existindo,
Sobrevivendo em lutas.

Sem você eu não sou nada,
Sem você eu não existo.

São apenas pequenos detalhes,
Mas minha vida é composta por eles,
Nossos caminhos também.

Olhe em meus olhos,
Enxergue a tristeza que ninguém vê!
Mas é claro que eu não vou chorar,
É claro que vou continuar me fazendo de forte.


(Mariana Montilha)