segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

meias palavras de desabafo.

Não entendo o motivo de algo que deveria ser tão puro, machucar tanto.... Tantas vezes.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Rastro de poeira.

Os pedaços deixados pelo chão, manchado como um rastro de vida não vivida, fizeram-na morrer novamente. Despedaçada mais uma vez. Quantas vezes mais? Em quantos pedaços seria possível alguém se quebrar? A platéia se levantou e aplaudiu mais uma vez. Sorrisos que lembravam desespero se soltavam de seus rostos. E ela sempre soube o que fazer, mas suas ataduras estiveram tão apertadas em volta de seu coração, tampando sua circulação, que hoje ele mal consegue pulsar por ela. Respirando com dificuldade, ela sorri para a platéia de falsos admiradores, enquanto, por dentro, inunda-se em água turva. Tingida de marrom escuro, como barro, toda água sobe aos seus olhos tampados com a fita adesiva que alguém utilizou para concertar uma boneca quebrada. Guardou toda a água dentro de si sabendo que aquilo lhe daria uma terrível dor de cabeça, e tentou, mais uma vez, mentir para si mesma, dizendo que tudo ficaria bem, mas ela sabe que não vai. Ela sempre soube. Ela nem consegue mais carregar a mentira.

(Mariana Montilha)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Convergência

... Mas sempre dói tanto deixar quem amamos partir. Ela buscou com as pontas dos dedos as mãos dele, ainda ali, como um refúgio, mas não havia mais qualquer sinal de existência. Seu corpo sabia disso mais do que seus sentimentos que ainda buscavam qualquer modo de acreditar... em qualquer coisa. Olhando para o teto branco, vazio de significado, mas que, antes, guardou em vão, secretamente, dias felizes. Ela sabia que estava de passagem pelo mundo dos sonhos... tentando alcançar o inalcançável... alcançar a felicidade. Virou para o lado e fechou os olhos.
... Mas sempre dói tanto deixar quem amamos partir. Ele buscou o sorriso dela com seus olhos , como refúgio. Sem qualquer sinal de reaproximação. Ele sempre soube disso, apesar de seu corpo e sua mente ainda procurá-la... em qualquer lugar. Sentado em sua cama, encarava a parede fria, que jamais foi capaz de guardar qualquer lembrança, nem sequer conhecê-la. Ele não sabia mais o que fazer em um mundo sem ela... Tentando atingir o inatingível... Atingir a felicidade. À um ponto acima de sua capacidade. Levantou e caminhou de encontro a parede, ficando rente à ela, e encostou sua cabeça ali, enquanto fechava os olhos.
Um mundo os separava, então.

(Mariana Montilha)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Dois em um...

Verdade moderna, mentira completa.

Você mentiu mais uma vez.
Nessa noites estrelada, sua mentira,
Com modos de verdade,
Ecoou para um vazio comedido.

Um vento que passava fez
a mentira ir para além.
Quando a pessoa ouviu...
Que coração partiu?

Quem se foi novamente?
Era tanto pesar.
Mas o distante se aproximava,
O que era falso, real ficava.

Seus passos ecoavam em sintonia,
As palavras em tom ameno
denunciavam a nostalgia.

Qual foi sua verdade em vão?
Onde esteve seu coração?
Indigno de memórias erradicadas.
Quem se importa, então?

...


Frio da existência


Neste quarto fechado, rodeado de paredes tingidas de sangue; Alguém esfrega as mãos no rosto... cansado. Seus olhos molhados pelo tempo percorrem a extensão do lugar. Ele pisca algumas vezes, parece não acreditar... a criança dentro de si ainda implora por brincar. As paredes de portas fechadas se contorcem. As maçanetas estão destruídas. Por um tempo fora de si mesmo, onde o vento possui cores. Onde já não se pode viver. A mancha na parede do tempo, exposta como uma doença contagiosa, sufoca seus sentidos. E a voz que sai por detrás dela, te faz chorar lágrimas de revolta, pela saudade sentida, pela morte não compreendida. Por toda confusão desmedida.

(Mariana Montilha)

sábado, 21 de novembro de 2009

Sintonia de tempo

Tempo. Engraçado como ele engana, não é? Você sai para a rua do esquecimento, você pisa em sua calçada encharcada de água de um tempo passado, onde o vento insiste em fazer fios de cabelo voarem em seu rosto. Você olha para os dois lados, assegurando-se de que nada vai te atingir. Mas o tempo... Ah, esse eterno brincalhão! Ele não pára. Nem por você, nem por ninguém. Ele te envolve... Você se entrega, deixa-se levar.
Ninguém pode te culpar, afinal de contas. Se o único culpado é o tempo, traiçoeiro tempo.
Você se esquiva, corre... com medo.
As feridas abertas com o tempo, também são fechadas por ele. Mas não há como fugir de tais ecos. Quando o vento chega à você e nenhuma das pessoas a sua volta são reais... As sombras se dissolvem em granulados de ar inexistentes.
A luz ou a escuridão que doma a vida. O sol ou a chuva. Os carros que passam, descontrolados, por todos os lados. Não há como prever. Você não sabe para onde vai, sequer sabe onde está.

(Mariana Montilha)

domingo, 15 de novembro de 2009

No words.

Você deu um passo à frente. Era um precipício, você caiu sem nem notar. A queda durou uma vida de felicidades tocantes. Você se tornou aquilo que fugiu de ser. Você é, na realidade, aquilo que não se tornou. Com o tempo suas folhas caíram, seu muro de pedras foi derrubado. Toda a fortaleza está acabada.
Quando você deixar de se encarar, seja somente você mesmo. O medo do escuro te domina, você grita e chacoalha, mas não há saída. Você corre e bate defronte ao espelho rachado. Sua face está manchada, suas lágrimas escorrem.

(Mariana Montilha)

domingo, 1 de novembro de 2009

A existência de uma pérola!

Sorria menina
O mundo ainda gira ao seu redor
As coisas ainda acontecem
E Tudo Conspira por Você
Feche os olhos e me encontre debaixo de um Ypê.

Nós nascemos para sermos
Venha até mim como um corvo misterioso
me conforte, me abrace, me tenha como um todo
Porque nós somos uma alma fundida
Desde o Big Bang.

Sele nossas vidas
Pois nós nos entendemos
Nos concertamos, nos confortamos
Você verá quando o Outono chegar
A minha vida vale a pena, com você
A sua vida vale a pena, comigo.

Obrigado por existir! e EXISTA pela eternidade no meu sentido.

(Por André Luis <3)


Você é minha luz no fim do túnel, o sorriso depois de um dia de lágrias. Você é como a esperança, depois de um baque gigante. E a força necessária para sobreviver nesse mundo de preconceito e infelicidade. Eu amo você, Dedé.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Risca de Giz

A monotonia do dia-a-dia não te deixa pensar,
Eles te calam, amordaçam.
É sua vez de jogar.

Rolam os dados,
O sangue em suas veias, corre mais rápido,
É sua vez de lutar.
Por favor, não fuja, vá à luta.

A venda em seus olhos te impede de enxergar;
O desespero, o caos;
O ódio em seu lugar.

Você grita, se debate,
Mas eles riem de você.
Você é forte, você vai quebrar.

Enfiando ferros fundidos em sua mente,
Eles te dizem o que fazer.
Agora você é o brinquedo do momento,
Agora você é o robô.

Máquinas com imagens te dizem
O certo e o errado.
A voz maçante do locutor,
Não te permite pensar.

(Mariana Montilha)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O quadro.

O homem pintado em tinta a óleo em um quadro pendurado na parede sorri para você, mostrando os dentes desenhados. Seu olhar falso, seu sorriso cínico. Como confiar? Aquelas palavras chegam, transformam-se em frases distantes, irreconhecíveis. Os sussurros estalados são os mais completos poemas de amor. Mas é tudo mentira - assim como o próprio homem, que é apenas de tinta seca, feito há anos atrás -, não passam de palavras jogadas ao vento, sem qualquer sentido real. Cada movimento é fatal, cada olhar pode destruir montanhas.
E nesses momentos de palavras vazias, o locutor se entristece mais e mais. Ele está sozinho novamente. O quadro continua sua narrativa infeliz... Aos berros.
O quadro está no chão, sua moldura de madeira quebrada em lascas. Os cacos de vidro espalhados pelo chão. Como se não bastasse... A imagem do homem de tinta está aos pedaços, rasgado para a eternidade. Mas ainda é possível reconhecer, em um pedaço rasgado da pintura, seu sorriso cínico. Ele venceu novamente.

(Mariana Montilha)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quem sabe?

Todo esse coração que bate;
Toda essa hora que não passa;
Toda angústia guardada à sete chaves.

A razão de tudo isso, ninguém sabe.
Ela não fala com ninguém.
Ela não está, ela não responde,
Ela só respira.

A cada piscar de olhos,
É uma morte interior mais forte.
Ela se refugiou em sua mente,
Ela correu de seus caminhos.

Olhos fechados para o destino,
Tentando alcançar o passado,
Quem sabe ela não muda?
Quem sabe ela se recompõe?

Ela tem o olhar perdido em melancolia,
O vazio devastador que a preenche.
Seus pulsos estão cortados,
Seu sangue pinga no chão.

Onde está seu interior?
Onde está sua alma?
Ela não se lembra onde os largou.

(Mariana Montilha)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Isso tudo que dói.

Em um mundo fantástico, de fantasias amarelas, todos sorriem, quanta alegria em cada centímetro de sentimentos colonizados. Todos gritam de dor, em tom ameno, de forma muda. As estrelas apagadas de um céu negro caem como gotas... Escorrem como lágrimas. E nenhum de nós se olhou no espelho novamente, por medo de ver as lágrimas que caíam de forma desesperadora. Mas as formas passadas de interação constante com o mundo exterior, perduraram. Como facas afiadas. E lá vamos nós de novo, fingir que nada aconteceu, que tais coisas não machucam a ninguém.

(Mariana Montilha)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Encenação da Mente.

A escuridão que domava o quarto era somente barrada por uma fresta de luz que vinha de baixo da porta. A imensidão negra abalava qualquer alma que ali se encontrasse. Até os sonhos que ali estivessem eram mortos, sem qualquer piedade.
O carpete preto no chão era incapaz de transmitir qualquer sinal de piedade.
O homem que ali se encontrava, estirado no chão frio de mármore, à poucos centímetros do carpete puído, olhava as estrelas inexistentes em um teto alto, cheio de mofo. Ele gritava, chutava e se sacudia dentro de sua mudez eterna. Aparentando a perfeita sintonia de um mundo de calmaria, só deixando transparecer em seu olhar, sua profunda tristeza. Ele ouvia o barulho do metrô. Seu coração palpitava em ritmo acelerado.
Ali, estendido no chão, ele assistia, em sua mente inconstante, a vida passar. A felicidade, a calmaria, a paixão, o horror.
A luz acendeu. Acenderam a luz. O quarto se iluminou. Agora era possível enxergar a vida real. Os armários, as estantes, os livros enfileirados, ordenados alfabéticamente. Restos de comida pelo chão. Poeira por todo lado. As coisas tomaram seus lugares. Menos ele. Incapaz de se mover, incapaz de ver a luz, continuou ali. Para Sempre.

(Mariana Montilha)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ela se...

Ela está perdida. Ela é um monstro enclausurado. Ela gritou e fugiu... não tão rápido. Ela perdeu as esperanças. Afogou-se em seu túmulo de tristeza. Ela consumiu sua memória, construiu sua história. Ela pulou do prédio mais alto. Ela sucumbiu às suas ideias. Ela demonstrou medo, ela demonstrou horror.
Ela chorou a noite toda, ela não dorme há um mês. Ela dançou a música toda, ela gritou o tempo todo, ela não parou a noite toda. Ela não se importa mais, ela se esqueceu de viver. Ela se esqueceu de conformar-se. Ela esqueceu de sua luz. De sua morte e sua vida.
Seu coração já não bate. Seus sonhos já não existem. Quais são seus medos? Ela não sabe. Ela é boa, ela é má. Ela já não lembra mais.

(Mariana Montilha)

domingo, 13 de setembro de 2009

Qualquer morte assoladora.

Você se debate. Você corre e não se afasta. Você grita, você chora. Seu desespero polui cada centímetro de ar inalado. Ninguém te vê, ninguém te escuta. Você se esconde e chora de medo, mas quem se importa? O sol começa a se pôr. A noite envolve os medos, a escuridão assombra qualquer coisa que lhe apareça. Seus sonhos ruins retornam. Você volta a se debater. É aterrorizante. O expresso passa, não se sabe para onde. Qualquer caminho, qualquer lugar. De onde veio, para onde foi. Já não se sente, já não se ouve. Qualquer que seja a razão... não importa.

(Mariana Montilha)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Esquecimento.

Ela deu as costas para você de novo,
Veja seu caminhar, ela não se importa.
Seus falsos sorrisos nunca a completaram.
Suas doces e falsas palavras sempre a infectaram.

Não existe mais certo ou errado,
Qualquer que seja sua postura,
Não há escapatória.
Não há chance de esquecer sua história.

Ela caminha ao longe,
Para mais distante de você.
O som de seus passos ecoa no chão de areia,
Ela deixou a marca de seu passado.

O vento colorido que toca seu rosto,
O redemoinho que ajeita suas roupas.
Ela vai sobreviver, você sabe.
Ela sempre foi a mais forte das mulheres.

Ela deu as costas para você de novo,
Cada passo a separa de um mundo sem cor,
Para uma existência em giz de cera roído.
Olhe como ela anda, você a verá de novo.

(Mariana
Montilha)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Anacronismo crônico - um pouco de nada.

"Correndo entre as valas de muros altos que alcançam um céu nublado, pichados por sentimentos rasgados, arranhados por sentimentos pintados. Pedras brilhantes em um chão de marfim contorcem-se em uma dança de vida e morte. Guiada pela escuridão, a vala pára em um campo de magia.
Um pouco da loucura, um pouco do vazio, um pouco do sempre, um pouco do tudo, um pouco do nada."

(Mariana Montilha)

Anacrônico.

Subindo pelas paredes,
Em cada centímetro do centro do mundo;
Onde quer que você esteja.

Olhe para mim,
Olhe para meus olhos.
Sentimentos falsos não completam.

Suba pelas paredes novamente,
Seu desespero sempre estará em seus olhos.

Você é um boneco empalhado,
O espantalho da plantação.
Sua tristeza toca o solo,
Espalhando-se pelo chão.

Rastejando pelo chão,
Sem qualquer ar de suficiência,
Você se completa em si mesmo.

Olhe ao redor, veja seu mundo,
Bem-vindo de volta.
Você se encontra em sonhos
Tingidos de sangue humano.

(Mariana Montilha)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Páginas e contornos

Escrevendo a vida em papel machê;
Contornado por riscos coloridos,
Que compões um desenho amassado pelo tempo.

Em letras engarrafadas,
Manchado por uma vida não vivida,
Sustentando-se em um eternidade de mentiras,
Corroída por um tempo de vida.

O contorno sustentado por ninguém,
As chamas que corroem,
As chamas que
destróem,
Sem alma, sem valor.

Em um canto rasgado,
Sentimentos de culpa se entrelaçam.
Dando-se a nota necessária,
Para um mundo encantado.

O que o sustentava foi abalado,
Sua caixa preta foi forjada,
Um risco fora d lugar,
Um destino tricotado.

(Mariana
Montilha)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Ponto úmido.

Seja forte, não chore,
Não chore esta noite.
Lágrimas secas não escorrem.

Onde quer que você esteja,
Esconda-se de qualquer sentimento.
As trevas virão te buscar,
Caminhando rápido, em contentamento.

Deite em sua cama,
Ela guardará seus segredos.
O travesseiro molhado não diz nada,
Ele guarda para si, constrói enredos.

Você é a cortina na sala de jantar.
Agora ela pega fogo.
Expondo para fora o que existe dentro.

Sua lágrima clareia o vento.
O ar agora é mais leve.
Sua previsão de tempo,
Contemple o momento.

Seja forte, não chore,
Não chore esta noite.
... Lágrimas em brasa escorrem.

(Mariana Montilha)

domingo, 16 de agosto de 2009

A realidade em ficção.

Sentada na cama que há tanto tempo abrigara dias felizes, e agora era obrigada a sustentar o peso da perda. Os cachos de cabelos ruivos batiam em suas costas, unhas de esmalte vermelho descascado, unhas completamente roídas, mãos tremiam levemente, enquanto os dedos insistiam em segurar um cigarro já queimado pela metade. Ao lado de seus pés encontrava-se uma garrafa e uma taça vazias de algum vinho barato. Seu olhar castanho claro esverdeado fixo no espelho pendurado à sua frente, preso à parede fria por um barbante prestes a se romper. Sem realmente enxergá-lo. Encarando mais do que a si mesma.
O clima de vazio tão pesado que pairava no quarto era dilacerante. O peso da perda, o peso da despedida. Não existia mais conforto naquele quarto, agora tão grande, tão vazio, cheio de melancolia e tristeza... O quarto que agora era só dela. Infinitamente dela.
Levantou a mão direita. Trêmula e fria como a de um cadáver, levou o cigarro aos lábios para mais uma tragada. Prendeu a fumaça em seu pulmão por alguns segundos, seus olhos se fecharam e ela pôde visualizar momentos felizes em sua imaginação. Em sua memória ainda repleta de momentos... Bons e maus. Que escapavam por cada poro de sua pele e entrelaçavam-se a mediocridade de uma vida agora conturbada.
O cigarro acabou, a bituca foi jogada dentro da taça vazia. Abaixou a cabeça até os joelhos, seus cabelos caindo para frente, tampando a visão do espelho sem vida. Escondeu o rosto nas mãos. Ela sentia tanto medo, como conseguiria viver uma vida inteira sozinha, agora que ele havia partido? Sempre haviam sido eles dois, em tudo. Como poderia sobreviver? Como continuar andando agora que sua sustentação havia desabado?
Não havia mais chão, não havia mais caminho. Sem sua luz-guia não havia esperança. Uma vida inteira de tristeza. Uma vida inteira vivendo em um passado aconchegante, acolhedor.
Não há esperança em um quarto afogado em melancolia, enquanto o despertador toca alegremente, quebrando o completo silêncio.

(Mariana Montilha)

sábado, 15 de agosto de 2009

Sou...

Eu sou a rodovia de mão única;
Que você atravessou sem dar importância.
Eu entrelacei meus caminhos,
Em ondas de inconstância.

Minha paisagem chama, seduz.
Em cada árvore que passa,
Você se emenda, reduz.
Pela metade - do avesso.

Eu sou aquela que você fingiu não ver;
Com a alma que você fingiu não ler.
Em um instante que você fingiu não existir;
Com sentimentos que você fingiu não sentir.

Sou os cacos de vidro no chão,
Espalhados como grãos...
... Instantes antes de a instabilidade chegar,
Você me deu as mãos.

Com a chama apagada,
Em um mar de incerteza.
Com os olhos fechados,
Em um instante inexistente.

(Mariana Montilha)

domingo, 21 de junho de 2009

Caminho.


As luzes da cidade formavam pequenas chamas de velas ao longe. O anoitecer estrelado olhava para ela. Ali, em cima da ponte, seus olhos corriam de um lado para o outro, acompanhando as luzes dos semáforos acesos. Não havia ninguém naquele momento, nenhuma companhia, apenas aquele sentimento falho de derrota. Em seu coração repleto de solidão, onde a loucura alcançava lugar e o medo lhe corroia noite e dia, ela tinha tomado sua decisão.
Com os braços abertos, esticados longe do corpo, a cabeça erguida aos céus e os olhos agora fechados, ela respirou a noite fria; fazendo com que a escuridão de dentro e fora fossem misturadas.
Em um instante de contemplação pôde perceber o quanto doía continuar ali – entre tudo e todos, sem para onde correr, sem ter como agir, em um caminho incerto entre o ser e o não-ser, em um torturante destino de incertezas.
Enquanto sua mente sobrevoava todos os caminhos desejáveis, sua alma implorava o único caminho.
Em seu mais profundo desespero, enquanto sua última lágrima rolava solitária em seu rosto, tomou sua decisão final; tombou seu corpo para frente e pôde sentir o sabor da queda.
Ela era doce, cheirava à ternura.

(Mariana Montilha)

sábado, 16 de maio de 2009

Carta a ninguém.

Você viu o céu esta noite? Ele chorou por nós... A noite toda. Era tanta tristeza guardada que relâmpagos invadiam a cidade. Em seu mais infinito esplendor, derrubou suas lágrimas sobre tudo, derramando sua dor. Encharcando quem se atrevesse a passar. Ao olhar para cima pude entender sua causa, eu sabia que não seria fácil, e, ainda assim, meu coração doeu. Sem tanto motivo, me ajoelhei diante de sua tristeza. Cada gota escorrendo em mim.

(Mariana Montilha)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A melancolia de sentir.

Ela esticou seus braços à sua frente, na altura de seus ombros. Uma brisa gelada passou, e ela pôde sentir os pêlos de seus braços se eriçarem. Com os pés descalços afundados na grama úmida, seu vestido rodado que batia um pouco acima do joelho, ela aproveitava cada sensação de topor que a invadia. Em seu próprio mundo de escuridão, ela tocou uma flor com as pontas dos dedos, sentindo a espessura das pétalas. Em seu vazio interior, uma lágrima solitária escorreu por sua pele quente, indo diretamente de encontro ao chão. Em um movimento rápido, quase inescrupuloso, seus braços se soltaram, frouxos, ao lado de seu corpo. Ela sentou no chão de grama molhada, com os braços agora abraçados às pernas desnudas, pelo vestido que caía de encontro à suas coxas. E ali ficou. A olhar o vazio de seu mundo inventado. A tristeza palpável. Sem saber por quanto tempo, sem saber após quantas lágrimas. Enquanto o vento batia espalhando suas lembranças para todos os lados e alguns fios de cabelo iam batendo e dançando em seu rosto. O sol subia, aparecendo por entre as nuvens. O calor fraco da manhã fazia-a sentir-se viva novamente - Como o acordar de um sonho ruim... Como uma noite mal dormida.
- Nós sobrevivemos e fingimos que está tudo bem... Procuramos sempre alcançar algo mais... Um algo que não existe e nunca existirá... Sinto que nós nunca seremos felizes, nunca nos daremos por satisfeitos... é tudo em vão, tudo infundado.

(Mariana Montilha)

sábado, 18 de abril de 2009

Em topor.

Você me chama, mas eu não escuto,
Me toca e eu não sinto.

Minhas lágrimas não escorrem mais,
Meu coração não bate,
E minhas veias não voltam a pulsar.

Eu pulei do sétimo andar,
Eu me joguei na frente dos carros,
Eu me afoguei em uma banheira.

Meus pulsos estão cortados,
Mas a falta de pulsação não me deixa.
Eu não morro!
Não me vou.

Minha cabeça está em um forno ligado,
O gás não me incomoda,
O gelo está à minha volta,
Mas eu não congelo.

A corda que prendia meu pescoço arrebentou,
A faca na minha garganta não tem corte.

O que eu sinto?
O coração... dilacerado!

(Mariana Montilha)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A la folie

Há tanto fogo em nossa estante agora,
As cinzas formadas que se espalham pelo chão.
cada rajada de vento que as varrem.

Em uma distância meticulosa,
Há quanto tempo eu me dou.

Agir de for inteligível,
Aguardando a necessidade que nunca vem.

Por que faz isso? Cala querendo falar,
Fala quando cala.
Transbordando sensibilidade,
Em cada mudez falada.

Seu álibi nos julgará,
E eu tenho a força para não permitir.

Não sei qual o problema,
Mas ele existe.
Presente em cada momento.

Rasgando as paredes de papel manchado,
Surtindo efeito em um mundo de crepom,
Plástico, sem vida, machucado.

(Mariana Montilha)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Intolerável.

O que é o amor, afinal?
Um sentimento tão complicado,
Tão desprovido de palavras explicáveis.
E, no entanto, todos procuram nomeá-lo.*

O que é esse sentimento que corrói?
Nas profundezas de um coração machucado;
Onde cada gota de seu próprio sangue se vai,
E o sofrimento é encontrado.

Sem um coração, não se vive!

Momentos que são feitos apenas em si mesmos.
O terror escondido em lençóis manchados,
Medos involuntários,
A falta de algo inominado.

Então, a falta de perspectiva;
O que, em dado momento, nos é tirado.
Em copos de vidros quebrados.

Os momentos modificados,
Em peças que não se encaixam,
Por sentimentos dilacerados.

A serenata já não comove mais,
E quem foi, já se foi.
Sem volta, com manchas.

(Mariana Montilha)


* Se alguém puder nomeá-lo, por favor...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pelo Coração.

É a criação da vida,
É a razão da morte.

O dia, a noite, o entardecer.
O entrelaçar de tudo,
A constante surdez do ser.

Os instantes entrecortados,
A voz colorida em giz de cera,
Os contornos entelaçados de vida.

O caminho da luz,
Que foge da escuridão,
O sólido instante entre loucura e lucidez,
No breu do olhar, a imensidão.

Loucura, solidão!

O standart da instisfação,
A ansiedade que consome,
Pouco a pouco, em momentos de confusão.

Morra! Morra! Morra!
Eu gritei! Ele não me ouve.
Não me ouve, não me escuta!
Mas eu grito. Ainda grito!

A eternidade virá me buscar,
E eu vou te amar.

(Mariana Montilha)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A última sílaba de tempo.

Qual a idade para se sonhar?
Em cada canto da sala,
Em papéis espalhados pelo quarto.

O momento escolhido!
Frações de segundos antes do amanhecer,
Enquanto os olhares ainda sobrevivem.
Quem amou, quem foi amado?

A terrível razão de tudo isso;
Está tudo escondido por flanelas na janela.
O ar que corta as estrelas...
... Em milhares de minúsculos pedaços desiguais.

Cada sentimento repartido em dois,
E o coração estilhaçado daqueles que sentiram.

Quem vai? Quem fica?
Quem chora; quem tenta sorrir?

Cartões pendurados nas paredes;
Tristeza estampada no olhar.
Pêndulos girando no altar.

O som que sai do seu olhar;
As cores que encantam sua melodia,
Os detalhes de seu andar.

(Mariana Montilha)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Sem vida.

Não é uma história, nem um poema, esse texto simplesmente não faz sentido algum, mas eu o adoro:


O que existia, na realidade, não era um desejo mútuo, não era uma razão... concreta. Nem um sentimento inexplicável. Era um ato incontrolável, um elemento incógnito.

Ela me olhava, assim como se olha para uma bela fotografia paisagista, em que a cada olhadela enxerga-se algo mais, um elemento que, antes, não parecia tão importante, nem sequer era realmente visível, mas que, depois de descoberto, não haveria modo de suportar sua inexistência.

Era simples demais, era complicado demais.

Ninguém disse que seria fácil. Ninguém disse que seria. Ninguém. Mas há coisas das quais não é necessário falar, apenas se sente.
Cada emoção, cada sentimento tem um nome diferente. De onde vinham tantas opções? De onde surgiram tantas tentações?

Mas ela estava ali. Não para mim, nem para si mesma, mas ainda assim, ali. Sua presença aterradora era mais do que eu queria, era mais do que eu podia suportar. Apenas um olhar já me torturava e não havia nada que eu pudesse fazer quanto a isso.

Envolvidos por um mundo que não nos pertencia, agindo de forma contraditória por tudo o que se perdeu. Tudo o que foi perdido até então. Tudo o que perdemos de nós mesmos em uma curva de esquina. Assim como a escuridão parecia não ter um fim digno de memórias.

Ali. No meio do caminho. Perdidos entre o ser e o não ser. Entre a razão e a inconciência. Um passo para o futuro, entre milhões de tentativas inacabadas.

(Mariana Montilha)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Insustentável.

Há algo estranho, já não sinto mais.
O vazio é enorme, avassalador.

O muro protetor foi abalado,
Intrusos que invadem emoções.
O acaso, os sentimentos, o amor adaptado.
Tudo instável, incalculado.

Momentos intocáveis, santificados.
O coração quebrado, o horror.
Quando você se fecha em seu próprio mundo,
E finge ser o que não é, um ótimo ator!

O otário. Ordinário!

Pedaços perdidos de si mesmo,
A alma inviolável.
O sorriso de mentira.
O coração machucado.

(Mariana Montilha)

sábado, 10 de janeiro de 2009

Ego.

Eu não entendo esse vazio que surge de repente,
É desesperador, instantâneo, doloroso, angustiante.
O despertar da estação, a continuidade da sensação.

Não sei onde se perdeu, onde foi deixado;
O mundo que antes me sorria, agora se redime.

O instante assustador... passo a passo.
O horror mastigado, a luta sem vitória.
O vai e vem sem fim, o abandono.

É assim que foi, é assim que é.
Inconcebível. inacabado. INADMISSÍVEL.

Não me importa, eu não ligo,
Já não sinto, já não existo.

Meu mundo se esgotou,
Meu elo foi quebrado;
Está tudo entrecortado.

(Mariana Montilha)