sábado, 13 de fevereiro de 2010

Olhos secos.

O problema se encontra bem aqui, em sua frente, refletido no espelho vazio para o qual você olha constantemente. A luz ofuscante, ali refletida, nada mais é do que aquilo que você procurou esconder por tanto tempo. Aquilo que nunca te atraiu. O que nunca te completou. Sem conseguir entender o reflexo - que você sabe conter seus mais profundos segredos - você se apavora. Solidão desesperada. Descobrir a si mesmo no espelho de bordas arredondadas e sem profundidade. Travado, sem reação ao inesperado sentimento de derrota que jamais tinha sentido, mas que, agora, te suga para dentro de uma armadilha colorida, de tinta ainda molhada. Surpreendentemente, algum passante apressado, sem prestar atenção, pisou e destruiu a arte à sua volta.

(Mariana Montilha)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

...

Não sei qual é o problema, não entendo de onde vem tudo isso. Deitada em minha cama às três da manhã, contemplo a escuridão total, enquanto uma música toca baixinho no rádio ao lado da cama. Relembro cada palavra, cada gesto... e o frio na barriga volta. Me reviro novamente, sei que não vou dormir. Paro e presto atenção; Meu coração dói, apertado ali, dentro do peito. Respiro profundamente, tentando em vão, manter essa ansiedade longe de mim. Tentado não molhar o travesseiro com minhas lágrimas novamente. Manter à distância todos esses sentimentos que me fizeram quebrar.
Olho em direção ao telefone silencioso. Por causa da escuridão, eu não o vejo, mas sei que está ali... mudo. O frio na barriga novamente.
Tiro o travesseiro que apoia minha cabeça, viro de lado na cama e coloco ele entre as pernas, enquanto meus braços envolvem a outra ponta. Abaixo minha cabeça e afundo-a no travesseiro... Minhas lágrimas finalmente conseguem ver-se livres de sua prisão.
Pois é, é assim novamente... Mas eu já não sei o que fazer, nem como tampar a dor. Como esconder a tristeza. Mas quem pensei se importar já nem se encontra mais aqui.

(Mariana Montilha)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Qualquer Coisa Sem Nome.


Seus olhos denunciaram sua dor mais uma vez. Lágrimas feriram pedaços inquebráveis. Tesouro partido em pedaços. O toque imperceptível daquela mão lhe destruiu, sem sequer notar. Passos em falso lhe fizeram tropeçar e cair em uma escuridão até então desconhecida. A incerteza inacabada, dolorida.
Seu olhar, agora distante, clamava por um segundo de paz.

(Mariana Montilha)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Fim do desfecho.

Ao surgir de duas metades improváveis, a beleza nasce como uma flor enraizada de um amor puro, inesquecível. As metades unidas por este tempo que não se vai, jamais se separam. Um amor que nasce dessa metade é incapaz de se desfazer na incerteza.
A composição é o ar em que respiras. Seu jurar não se esvai. Sendo sincero e inocente, ele se funde ao ser humano, como nada é capaz de se fundir. Seu suicídio interior.
Com aquilo, passa-se a ser nem um terço do que já foi. A pessoa por quem se apaixonou, já não é mais quem é. Já não se encontra em sincronia...
A neve branca que, tempos atrás, caía do lado de fora da janela, hoje tornou-se cinza. Pedaços e mais pedaços de céu descolorido, que caem sobre cabeças desprevinidas. Tornando o que já foi, uma versão melhor do que é hoje.

(Mariana Montilha)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Trechos Desfeitos.

Você não notou, mas a insatisfação surgiu mais uma vez diante de nós, em uma belíssima forma de despedida arranjada. E os pequenos erros repetidamente cometidos fazem de nós a figura desbotada, exposta em um muro prestes a desmoronar.
Eu sei o quanto dói, por favor, acredite em mim, mas continuar seria renegar a nós mesmos.
Você sabe, eu sou feita de um material estragado, o mais puro delírio de insensatez. Estagnado em você.

(Mariana Montilha)