sábado, 26 de dezembro de 2009

Rastro de poeira.

Os pedaços deixados pelo chão, manchado como um rastro de vida não vivida, fizeram-na morrer novamente. Despedaçada mais uma vez. Quantas vezes mais? Em quantos pedaços seria possível alguém se quebrar? A platéia se levantou e aplaudiu mais uma vez. Sorrisos que lembravam desespero se soltavam de seus rostos. E ela sempre soube o que fazer, mas suas ataduras estiveram tão apertadas em volta de seu coração, tampando sua circulação, que hoje ele mal consegue pulsar por ela. Respirando com dificuldade, ela sorri para a platéia de falsos admiradores, enquanto, por dentro, inunda-se em água turva. Tingida de marrom escuro, como barro, toda água sobe aos seus olhos tampados com a fita adesiva que alguém utilizou para concertar uma boneca quebrada. Guardou toda a água dentro de si sabendo que aquilo lhe daria uma terrível dor de cabeça, e tentou, mais uma vez, mentir para si mesma, dizendo que tudo ficaria bem, mas ela sabe que não vai. Ela sempre soube. Ela nem consegue mais carregar a mentira.

(Mariana Montilha)

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