sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O quadro.

O homem pintado em tinta a óleo em um quadro pendurado na parede sorri para você, mostrando os dentes desenhados. Seu olhar falso, seu sorriso cínico. Como confiar? Aquelas palavras chegam, transformam-se em frases distantes, irreconhecíveis. Os sussurros estalados são os mais completos poemas de amor. Mas é tudo mentira - assim como o próprio homem, que é apenas de tinta seca, feito há anos atrás -, não passam de palavras jogadas ao vento, sem qualquer sentido real. Cada movimento é fatal, cada olhar pode destruir montanhas.
E nesses momentos de palavras vazias, o locutor se entristece mais e mais. Ele está sozinho novamente. O quadro continua sua narrativa infeliz... Aos berros.
O quadro está no chão, sua moldura de madeira quebrada em lascas. Os cacos de vidro espalhados pelo chão. Como se não bastasse... A imagem do homem de tinta está aos pedaços, rasgado para a eternidade. Mas ainda é possível reconhecer, em um pedaço rasgado da pintura, seu sorriso cínico. Ele venceu novamente.

(Mariana Montilha)

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