terça-feira, 20 de abril de 2010

concepção de verdade

Estarei mentindo se disser que não esperava ainda alguma consideração pelas memórias então partidas, mas aparentemente o passado está mais apagado do que pude supor. No entanto, estarei mentindo também ao dizer que essa decepção não era esperada. A dor um dia sua, já nem passa mais por mim, a decepção já nem me desola mais.
Foram tantas quedas que já nem me permito mais sonhar; tantas lágrimas escorridas que nem me lembro mais. As últimas palavras de despedida, hoje se perderam em um mar negro de mentiras. E nenhuma delas, hoje, faz algum sentido em minha mente já desesperada.

Sua libertação foi um coração partido, desesperançado, que hoje não sente mais. E é tão triste renunciar à isto.



(Mariana Montilha)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Fim.

Eu me levantei de meu túmulo e recolhi meus cacos espalhados pelo chão de marfim. Cada pedaço recolhido de mim mesma era mais uma lembrança dolorosa de um passado feliz, pintado de cinza e rosa.
Meus calcanhares não se aguentavam, quase quebrados de dor; os olhos ardiam, marejados pela maré da solidão desesperada e do vazio, agora, constante; meus pés descalços se cortavam lentamente nas lâminas do tempo. E até minhas mãos, que um dia encontraram o toque das suas, hoje se encontram vazias. Perdidas.

Sonhos ruins fazem com que eu me revire, incansavelmente, durante a noite estrelada. Olho para aquela constelação que me traz tantas recordações: "olá", eu repito novamente, sem qualquer vestígio de resposta.
Dar as costas, em um passo de cada vez, procurando seguir em frente, tentando não manchar o caminho com mais lágrimas.

(Mariana Montilha)